Dentro de nossas
tradições o pedido de bênçãos é algo muito importante, pois significa além de
um ato de respeito ao axé a demonstração de educação litúrgica, vale salientar
que isso é um pré-requisito da educação doméstica, pois isso denota de forma
explícita o nível de conhecimento e compreensão (Muitos conhecem, mas a soberba,
o orgulho e a vaidade não os deixam compreender) tanto de um Bàbálòórìṣá ou Ìyálòórìṣá,
como de seus oficiados, filhos e filhas de Santo.
Nas conversas de ensinamentos qual passei com meu saudoso Pai
Grivaldo, Mãe Eunice e Madrinha Zefinha, eles sempre conversavam sobre isso
também, meu Pai dizia que jamais se entrava no Sítio de Pai Adão sem se fazer
as referências litúrgicas externas (Em destaque ao pé de Iroko) e as internas
como entrar em silêncio ir à porta do Pegi (Lessem Orixá) e posteriormente a
seu José Romão, seu Malaquias Ojé Bií, Dona Beleza, Dona Amara e demais que
estiverem no salão, nesse quesito quero dar um destaque a figura de Dona das
Dores que foi Madrinha dele na época podia estar em qualquer lugar, nenhum de
seus afilhados ou filhos fosse pedir bênçãos de longe, tinha que vir junto dela,
fato que me foi relembrado por Tia Zeza Oyá Ladê, aí se denota o nível de respeitabilidade
qual se tinha.
Quero nesse momento dar destaque a tradição Ketu, qual em
hipótese alguma essa norma pode ser subjugada. Muitas pessoas podem hoje dizer
"Eu não tomo bênção", mas isso é uma regra imprescindível dentro do
Axé, qual em hipótese alguma diminui ou desmerece tanto a quem pede como a quem
dá. Pois quem responde a um pedido de bênçãos ou pede, nada mais é que uma
forma de demonstrar seu respeito compreensão e comprometimento com nossa
Ancestralidade, pois esse pedido está sendo respondido em sua plenitude pelo Orixá
não pela pessoa. Essa pessoa (Elegum) nada mais é que uma referência física.
Vejo hoje com muita tristeza muitos, inclusive muitos que se
dizem da linhagem direta da tradição NAGÔ EGBÁ (Sítio) ou Casas Matrizes não
dando exemplos das normas litúrgicas, principalmente de educação. Pois para mim
a tradição principal não esta no Brasil, e sim no Continente Africano, os
desencontros são enormes principalmente no que tange a respeitabilidade
necessária. Para mim para ser tratado como um Sacerdote ou Sacerdotisa tem que
passar pelos trâmites litúrgicos, não é porque é filho, filha, neto ou bisneto
de Bàbálòórìṣá ou Ìyálòórìṣá que carrega o mesmo nível litúrgico, hoje os
tempos são outros.
Vejo pessoas de ontem que não tem sequer cargo oficializado
dentro da liturgia botando banca, passam pelos mais antigos (de idade e de
tempo de Santo) com o nariz lá em cima.
Quer respeito?
Se dê ao respeito e trate os outros com respeito, pois filho
de Medico, Advogado, Professor... Só poderá ser tratada com o mesmo nível
litúrgico se passar pelos preceitos da tradição, pois tais Preceitos assim como
o exemplo anterior qual escrevi “NÃO SÃO TRANSFERIDOS!!!”.
Um dia desses vi uma cena que me deixou bastante
entristecido, estava eu no mercado de São José acompanhando uma Ìyálòórìṣá
muito antiga (com 60 anos de Santo feito com seu José Romão) de repente
adentrou no recinto um rapaz que nem 30 anos de idade tem e mesmo reconhecendo
a Sacerdotisa sequer lhe pediu a bênção, pois receber uma resposta dessas é uma
grande honraria com uma grande bênção mesmo. E o citado rapaz falando até
palavrões na frente da Ìyálòórìṣá, daí eu como não suportei tamanha falta de
respeito, eu interferi de pronto "Êi rapaz, por favor, né, tem uma senhora
de idade aqui e uma Ìyálòórìṣá" ele sorriu com deboche e disse, “a eu
estou atacado hoje, eu sou bisnetos de Pai Adão, sou raiz rsrsrs”. Eu disse, mais
um motivo para você se acordar né, aqui está uma Ìyá feita por seu bisavô.
Para mim o que é transferido é doença venérea, cargo não, Ancestralidade
tem que ser valorizada e tratada de forma litúrgica para essa herança realmente
ser legitimada. Esse é só um simples destaque qual permeia minha observação de
hoje. Até o próprio cargo de Bàbálòórìṣá ou Ìyálòórìṣá só é legitimado
realmente quando do seu reconhecimento e compreensão de quem o carrega, uma
Sacerdotisa e um Sacardote de real valor não vive se envolvendo em escândalos,
golpes ou situações que diminuam sua conduta, Sacerdotes e Sacerdotisas tem
postura, caráter e honra.
Tenho visto hoje meninas que são elevadas a cargos que
sequer tem compromisso moral, vão a um Xirê com minissaia com os seios amostra
e usam o famoso pano faz de conta que mais parece roupa de piriguete.
Aprendi que eu tenho que pedir bênçãos aos mais antigos, trocar
bênçãos com os do mesmo tempo de feitura, pois aquele pedido de bênçãos não é
direcionado a pessoa, mas sim ao Orixá.
Quem quer Respeito se faz respeitar, dá o exemplo.
E agora inventaram até uma moda de crianças com cargos
elevados quais pessoas antigas tem que se ajoelhar em reverência. COMIGO NÃO!
Essa criança é a reencarnação de Bàbá fulano, ela tem o título etc... Estamos
falando da tradição Nagô Egbá ou de Budismo? Que nada.
Uma vez ao término de um Bory na qual fui oficiante e a
oficiada é uma Ìyálòórìṣá muito antiga, eu bati cabeça para ela e um amigo Sacerdote
me disse "Oxe, você não tem que bater cabeça para ela não, você quem fez o
Bory dela". Eu respondi "Irmão, antes do meu Ory ser preparado para
mim, o dela já existia na terra já dando caminho para outros Ory, ela é Mãe de
9 filhos e o mais novo dela tem idade de ser meu pai". É coisa assim qual
avaliamos o nível de compreensão de algumas pessoas, vejo cenas que me deixam a
lamentar. Filho entregando corpo de pai carnal, fazendo até o Axexê, isso para
mim é a demonstração da incompreensão do que realmente é nosso legado. Um orixá
se curva ao ventre da genitora de seu filho (Exí Elegum) mesmo que essa não
tenha feitura no culto, pois ali está o berço físico ancestral, de outra parte
já presenciei o "Orixá" de uma pessoa não se curvar para a Ìyálòórìṣá
que iniciou seu filho, porque o filho agora está com outro sacerdote. O que é
isso em?
Temos que refletir!!!
“OS BONS EXEMPLOS TEM QUE SER DADO, PRATICAR AQUILO QUE SE
EXIGI”
“ANDO MUITO DECEPCIONADO, NÃO COM A RELIGIÃO, MAS COM MUITA
GENTE QUE NÃO FAZ O QUE FALA”
É Pau Guiné!!!